4/03/2006

“Corrente da morte, Arrastão, Cavalinho de Guerra, Guerra do Iraque...aonde vamos parar?

Trabalho como secretário em uma escola municipal na cidade de Taubaté. Tudo está normal, as crianças entraram para suas salas, as professoras aplicaram os exercícios diários e eu fui para a secretaria...
Como em todas as escolas, após um período de duas horas em sala de aula, os alunos saem para o intervalo. Neste período fazem suas refeições e logo após ficam com o tempo livre para brincar, repito, BRINCAR.

Durante meus dois anos neste ofício, passei por três escolas, todas situadas em região de classe baixa, porém, cada uma com suas particularidades. Nestas escolas pude perceber o quanto a mídia maldita influencia a cabeça de nossas crianças.

A primeira escola que trabalhei era em uma região que estava nascendo um bairro, ele ainda era pequeno, um mini bairro. As crianças que lá residiam não tinham costume de ver TV, eles gostavam mesmo era de brincar nos grandes terrenos que ainda haviam por lá, nesta escola sim, era possível sentar e conversar com os alunos, realmente poder fazer a educação florescer. Mas o tempo passou e fui transferido para outra unidade escolar.

Na segunda escola, grande e lotada de alunos, localizava-se em um bairro também grande e famoso pelo seu alto índice de violência. Apesar da pobreza, a maioria dos moradores deste bairro tinham acesso a TV, era possível ver os adolescentes comentarem alguns programas. Um dia na hora do intervalo para as crianças, ouço gritos e assobios: Meu Deus, é uma briga! Chegando perto para ver quem eram os alunos, me deparo com duas crianças de oito anos, grudadas como dois pedaços de plástico com Superbonder. Separo rapidamente. Questiono-os o por quê da tão terrível briga, eles me respondem: “Estavamos brincando de Yu-Gi-Oh!. Continuei com minha dúvida. Mas, na hora do almoço, o horário que os alunos também estão em suas casas almoçando, ligo a TV para dispersar um pouco o pensamento, é violentamente jogado aos meus olhos o falado Yu-Gi- Oh!, um desenho de extrema violência onde matar é a ordem e poder divino. Mas ainda não é tudo.

A última escola, que estou trabalhando nela ainda, localiza-se em um bairro urbanizado, cheio de casas e conjuntos habitacionais, e me impressiono com o tamanho da carência das crianças e penso: “Aqui há um grande trabalho a fazer”.

... Vou para minha sala resolver minhas atividades e espero a hora do intervalo. Quando bate o sinal, o barulho de uma cavalaria com uns 300 animais invade a secretaria: O que é isso?, pergunto a diretora da escola. “ É o recreio”, responde ela. Me assusto com a falta de educação e violência das crianças que “brincam” de “Corrente da morte”, “Arrastão”, “Cavalinho de guerra”, “Guerra do Iraque” (olha a mídia outra vez) e ponho-me a refletir sobre o que os meus olhos não querem ver. “Meu Deus! Aonde vamos parar?

Agora, neste exato momento, em que escrevo este desabafo, recebo a seguinte informação, de cinco alunos que adentram em minha sala: “Diego, fulano tirou sangue da cara de fulana com a unha...”. Fico sem ação para resolver. Perdi a paciência. E estou perdendo as esperanças. Ainda mais, quando encontro produtos de todos os segmentos da indústria, enfiando “goela abaixo” dessas crianças toneladas de propaganda, que idolatram desenhos violentos que deturpam a mente das crianças, que ainda serão um dia o futuro do país. Meu Deus, aonde vamos parar?
Padroeira do Brasil – olhai, rezai, votai, investigai, por nós!!!

Dia 12 de outubro de 2006. Feriado. Dia das crianças e da padroeira do Brasil, Nossa Senhora Aparecida. Nada mais justo dizer: “Projeta nossas crianças famintas”.

Para nossos olhos, não mudou nada, aconteceu a mesma cena anual. Mais de cento e cinqüenta mil fiéis se reuniram para fazer homenagens, agradecer e pedir graças à tão grande e santa virgem Maria. Mero engano. O Brasil não é o mesmo neste ano de 2006. Agora! É Lula. Há muita coisa para pensar e pedir. Santa Maria nos proteja contra a injustiça!

A arquitetura imponente da basílica de Aparecida nos dá certa esperança, porém, tão mais imponente e menos esperançosa, a arquitetura de Brasília nos lembra a corrupção indestrutível. Lampião, Antônio Conselheiro, nos revele o caminho. Faça-se a justiça!

Escândalos e mais vergonhas escrevem nossa história. Três Comissões Parlamentares de Inquérito, as famosas CPI’s, sempre aparecem em nosso país. Quanta desordem! Os nossos pingüins engravatados querem derreter a geleira e inundar o Brasil. E o povo? O povo pede! Pra quem? Para o céu oras, em quem mais se pode confiar neste país? E ainda somos obrigados, sim obrigados, a votar um referendo sobre o futuro da comercialização de armas de fogo no país. Será medo de uma chacina de ministros e deputados? Não sei. Uma coisa é certa. Vou justificar no meu voto!

Retornando ao dia 12 de outubro. O que será que pediram cento e cinqüenta mil pessoas em uma igreja? Melhorias para a segurança pública, mais discussão sobre a transposição do rio São Francisco, a prisão perpétua de Maluf, a não obrigatoriedade do voto ao referendo. Isto é bem questionável e reflexivo. Só espero que as preces sejam atendidas, assim poderíamos decretar feriado algum dia para Padim Ciço e Iemanjá, porque não? Seria uma alternativa para mudar o país! Já que sair às ruas acabou se tornando uma atitude só para corajosos. Ah! Meu Brasil! Nossa Senhora Aparecida! Nos perdoe por não saber votar ou, por sermos enganados tão facilmente por promessas de campanha.

Se mencionarmos ainda 12 de outubro como dia das crianças, com certeza, a indignação é geral. Milhões de pequenos príncipes estão passando fome ou sofrem em condições desumanas. E milhões de reais, é a quantidade de dinheiro gasta em campanhas políticas, bancadas por empresários favorecidos pelo governo. Quanta sujeira!!!

Será o Brasil uma Gothan City, do novo filme Batman Begins? A ponto de ser eliminada do mapa, por tanta corrupção. Espero que não! Como cantou Chico Buarque em tempos passados,...Apesar de você , amanhã há de ser outro dia. Bem, este é o novo dia. No entanto, essas crianças crescerão e terão suas vozes amplificadas, a partir disso o Brasil vai mudar para melhor, ou para pior, com ainda mais violência e desordem, já que até filhos burgueses, com vida feita, matam seus pais e acabam soltos. Ah! Meu Brasil! Quero ser o índio antes do descobrimento! Em paz.